Mariana Duarte, 36 anos, triatleta.

Mariana Duarte, 36 anos, triatleta.

“´O triatlo não é para mim´.

   Talvez tenha sido a frase que mais repetia quando alguém me perguntava se não tinha curiosidade em experimentar. Sair da minha zona de conforto nunca foi o meu forte…e o meu percurso no desporto tem muito disso.

   O desporto apareceu cedo na minha vida. Sendo a natação bastante completa, foi a opção para começar. Com o passar dos anos, nadar tornou-se algo natural e em que seria boa o suficiente para avançar até chegar, finalmente, ao nível competitivo. Nos treinos estava sempre descontraída. Havia apenas um problema: a competição. Alinhar numa prova, os nervos, o tiro de partida, o pensar “eu não sou capaz de ganhar” enchiam a minha cabeça. O treino diário era a minha zona de conforto, enquanto a competição era o desconhecido, o salto de confiança em mim mesma…que não tinha.  

   Anos volvidos, e a faculdade fez-me pôr a natação de lado e deixei o desporto em pausa.

   Quis o destino que me cruzasse com duas novas amigas que me desafiaram a fazer a minha primeira meia maratona aos 23 anos. Nem hesitei em aceitar e o entusiasmo instalou-se. Rapidamente, percebi que tinha descoberto uma modalidade que me fazia feliz. Quando corria sentia-me livre, sentia-me imparável, capaz de mais do que achava possível. Com a primeira maratona algo se acendeu em mim: tinha feito 42km, algo impensável até então. Será que afinal consigo sair um pouco da minha zona de conforto?  Decidi focar-me nesse objectivo e continuar a cumprir maratonas. Afinal, a distância rainha seria o meu maior feito da vida (achava eu).

   Aos meus 30 anos conheci a minha melhor amiga que praticava triatlo. Foi o primeiro contacto que tive com este desporto e comecei a assistir a provas e a conhecer mais pessoas neste meio e o meu fascínio aumentava. Tornei

-me uma grande fã, sempre com a noção de que era demasiado duro para mim. Praticar uma modalidade já era complicado…mas três? E seguidas? Era um desporto difícil, não tinha saudades da natação e havia um ínfimo pormenor que era “deal breaker”: eu não sabia andar de bicicleta. De todo. Por isso afirmava “o triatlo não é para mim”. Mal sabia eu quão enganada estava.

   Em Outubro de 2021, assisti pela primeira vez à prova de Ironman em Cascais. Toda a emoção que senti naqueles atletas, a superação da dureza de um feito daqueles, a meta. E nesse momento jurei a mim mesma que um dia iria alinhar naquela prova. A promessa estava feita. Era arregaçar as mangas, arranjar o material e lançar-me ao desafio. E pela primeira vez, sem perceber, dei o primeiro passo para fora da minha zona de conforto, para nunca mais voltar a entrar.

   Aprender sozinha a andar de bicicleta foi a coisa mais assustadora e incrível que fiz. Sentirmo-nos voltar à infância mas com medos de adulto não é fácil. Mas é nestes momentos em pensamos: quanto é que eu quero isto? Porque é que faço isto? E seguimos em frente. E aprendi a andar e continuo a aprender todos os dias. Voltar a nadar foi o segundo feito: largar aquele diabinho na cabeça que me dizia que não era suficientemente boa. E deixei-o ir e voltei a nadar…desta vez mais feliz. Estava então preparado o cenário para me lançar ao meu primeiro triatlo.

   O primeiro triatlo que completei mostrou-me aquilo que durante tantos anos não tinha sido capaz de afirmar: sou capaz de muito mais do que penso. E o triatlo é, com toda a certeza, para mim.

   O primeiro triatlo levou-me ao primeiro half-ironman e levar-me-á um dia ao meu primeiro ironman, um dos meus maiores sonhos. Os receios que levavam a minha versão de 13 anos a não querer competir em natação ainda pairam no ar, mas com a diferença de que já não deixo que me definam nem parem. Aos 36 anos sei que a facilidade da zona de conforto me limita de coisas incríveis. E a vida pede que nos surpreendamos de vez em quando. Sermos ídolos de nós mesmos é uma coisa que não se explica, sente-se. E eu ainda estou no início dessa viagem."

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